O que vou fazer aqui não é um ensaio acadêmico ou parecido porque não é o meu publico- alvo. Tratarei do assunto de forma didática, para que alunos do ensino médio possam esclarecer, ou ajudar a esclarecer, as dúvidas quanto a isso (por isso reducionismos didáticos poderão ser realizados).
Alguns conceitos ou abordagens importantes sobre a temporalidade
O Tempo é um dos principais, senão principal, elemento de estudo do historiador. Por ele tratar das sociedades do passado, ele tem que lidar com o tempo. Desse modo, ele instituiu o Tempo Histórico, que é aquele instrumento que vai permitir o estudo de história.
Dentro desse estudo sobre o tempo, existem diferentes abordagens que eu poderia citar aqui, mas, como estamos falando de História para alunos do ensino médio, trataremos do Tempo Histórico, a partir dos seguintes conceitos e ideias:
- O Tempo Histórico é diferente do Tempo Cronológico (que é o tempo medido pelo relógio, calendário etc.)
- Lidaremos com a Divisão Tradicional do Tempo Histórico, ou seja, aquela divisão de Períodos históricos a partir de uma linha do tempo. Essa divisão é questionada, mas é aquela mais trabalhada em sala de aula, porque é a mais rápida de ser apreendida pelos alunos.
- Nesta divisão tradicional, temos os seguintes períodos históricos:
* Pré- História: que começa na origem do Homem e termina no ano 4000 a. C. (data atribuída ao primeiro documento escrito)
* Idade Antiga: inicia no ano 4000 a. C. e termina no ano 476 (data da queda do Império Romano do Ocidente pelos bárbaros invasores)
* Idade Média: inicia no ano 476 e termina no ano 1453 (data da queda do Império Bizantino, com a tomada de Constantinopla pelos Turcos Otomanos)
Idade Moderna: inicia em 1453 e termina em 1789 com a Revolução Francesa
Idade Contemporânea: inicia em 1789 e chega aos dias atuais; é o período corrente
Percebemos por essa breve exposição que essa divisão é baseada na história européia, ou seja, desconsidera as etapas dos outros povos e culturas. Mais do que isso, essa divisão os incorpora a partir de um centro europeu de produção de História dominante, que absorve os demais povos para a sua própria História (como povos dominados ou periféricos.
A ideia contida nessa divisão é a de que os marcos históricos que separam os diferentes períodos indicam mudanças nas sociedades. Mudanças profundas, que determinam então a saída de um período histórico e a entrada em outro. Até o mais desatento percebe que aqui existem muitos problemas.... Mas vamos deixar esses problemas de lado e continuar.
- A divisão tradicional da História foi criada no século XIX. A partir do século XX, alguns historiadores aprofundaram os estudos sobre o tempo e trouxeram alguns conceitos que são importantes para a gente que está no Ensino Médio. São esses conceitos - e as suas aplicações nos conteúdos de História - que podem sanar as dúvidas dos alunos.
Os principais conceitos desses historiadores são: os eventos de longa duração, de média duração e os de curta duração.
A longa
duração seria assim, o período mais lento, o período das estruturas, em que os
aspectos sociais e econômicos mudam de forma mais lenta. A longa duração é aquela medida que as pessoas que vivem no período não sentem, e que por isso são estudadas pelo historiador, que vai dar nome a elas. Por exemplo: quando falamos sobre o "o Feudalismo". Esse foi um período longo, de mudanças lentas e que os seres humanos que viveram o período não sentiam essas mudanças e muito menos codificaram o momento de vida deles como feudal. Quem fez isso foi um historiador, muito tempo mais tarde.
O tempo
de média duração é aquele que não é percebido tão prontamente (de imediato) pelas pessoas e
que corresponde a um momento intermediário entre o tempo longo e o tempo curto.
Quando percebido, é comentado pelos contemporâneos como períodos, momentos. É a
conjuntura, como por exemplo, quando falamos sobre o período da Ditadura Militar
no Brasil (1964-1985).
O de curta duração é o evento, ou seja, o próprio fato histórico.
A partir desses conhecimentos, temos que estar atentos ao conteúdo que o professor está abordando em sala de aula e perceber de qual estrutura o professor está falando.
Mas o que é estrutura?
Para responder a pergunta, vou citar um trecho da Infopedia e traduzi-lo.
A estrutura pode ser tida pois como um sistema. Nas Ciências Históricas, a estrutura representa assim um complexo temporal e espacial definido por vários séculos ou por durações cronológicas extensas, composta de conjunturas variáveis, com pontos de contacto entre si que fazem com que a estrutura seja um todo, mesmo que formado por contrastes ou continuidades.
(https://www.infopedia.pt/$estrutura-(historia), visto em 2/4/2017)
O trecho quer dizer o seguinte:
- Estrutura é um sistema;
- Estrutura é um período longo de tempo (vários séculos ou qualquer duração longa)
- Dentro deste período longo, aparecem várias conjunturas, que são variáveis
- Essas conjunturas se conectam entre si, dando a ideia para essa realidade de tempo de algo coeso, dando uma ideia de totalidade.
Voltando ao exemplo do Feudalismo. Por que afirmar que a Europa dos séculos V- XV era feudal, se sabemos que as economias e as sociedades de Portugal, França, Inglaterra, Espanha etc. eram diferentes?
As respostas são muitas. Vou dar alguns exemplos somente.
Porque apesar de diferentes, tinham elementos que as constituíam iguais ou semelhantes:
o fato de um senhor feudal controlar os seus camponeses e de a economia (de todos os lugares da Europa deste período) ter sido rural e de subsistência por um bom tempo.
Pelo fato de o comércio ter voltado com maior força a partir do século XI,
Pelo fato de as classes dominantes destes lugares serem compostas por senhores de terras guerreiros
Pelo fato de a Igreja Católica exercer um forte poder político, cultural, religioso etc. entre outras coisas
Sendo assim, podemos dizer que entre os séculos V-XV a Europa passou por uma Estrutura calcada no Feudalismo
O termo possui mais significações, mas elas giram em torno dessa ideia central que apresentei aqui.
Para quem não sabe o que é Conjuntura
A Conjuntura é a palavra que está de acordo com as circunstâncias em que ocorre determinado fenômeno ou quando o fenômeno ocorre em determinado espaço de tempo.
Conjuntura é a situação. Esta pode acontecer ao mesmo tempo ou em uma sucessão do tempo.
Talvez aqui esteja parte da dúvida dos alunos.
Vamos resolver a conjuntura a partir de um exemplo da última aula do 3o ano do Intellectus Botafogo, no dia 30 de março de 2017.
A aula era sobre Invasões Holandesas. Qual seria a conjuntura, a situação, daquele momento para a História do Brasil e de Portugal? Vamos lá:
A resposta curta e grossa seria: a UNIÃO IBÉRICA!!!!
No entanto, História não é Física e por isso não há uma resposta simples que responda a todos os requisitos. Nós temos que levar em consideração os desdobramentos e os outros episódios que ocorrem SIMULTANEAMENTE a União Ibérica. Neste caso, temos que levar em conta a autonomia das Províncias Unidas dos Países Baixos, a inimizade entre Espanha e Holanda, as invasões no Nordeste brasileiro (com seus interesses, motivos, consequências etc), as invasões holandesas em Angola e em outras colônias portuguesas na África, as revoltas que sucederam após a saída de Nassau da administração....
Isso tudo faz parte de uma conjuntura em que a produção do açúcar brasileiro movia interesses não só de portugueses.
Para fechar essa parte: Essa conjuntura acima exposta está dentro de um contexto maior, de uma ESTRUTURA, ligada ao Capitalismo Comercial, ao processo de colonização e a Consolidação dos Estados Nacionais europeus como Estados Nacionais centralizados e capitalistas.
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